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FONTE: UFMG
Terça-feira, 4 de abril de 2017, às 11h11
Por: Sala de Impresa
Crescimento da população de idosos vai aumentar incidência de demências, mas é possível prevenir, afirma professor da Faculdade de Medicina
Fotos: Foca Lisboa / UFMG
Ao longo das próximas décadas, estima-se que a população idosa mundial cresça consideravelmente. No Brasil, o número de idosos deve dobrar nos próximos 25 anos, o que vai implicar também o aumento dos quadros de declínio de memória e demência, especialmente a incidência da doença de Alzheimer. Mas já se conhecem formas de prevenção, afirmou o neurologista Paulo Caramelli, professor do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina, em conferência realizada na noite dessa segunda-feira, 3, no Auditório Nobre do Centro de Atividades Didáticas de Ciências Naturais (CAD 1), campus Pampulha
Caramelli defende pesquisas focadas no envelhecimento cognitivo saudáve
Na abertura do evento, que integra programação do ciclo UFMG, 90: Desafios contemporâneos, que comemora as nove décadas de fundação da UFMG, o reitor Jaime Ramírez [foto]destacou a importância da preparação dos jovens estudantes da Universidade para lidar com os efeitos do envelhecimento da população brasileira.
Na abertura do evento, que integra programação do ciclo UFMG, 90: Desafios contemporâneos, que comemora as nove décadas de fundação da UFMG, o reitor Jaime Ramírez [foto]destacou a importância da preparação dos jovens estudantes da Universidade para lidar com os efeitos do envelhecimento da população brasileira.
“Posso dizer, sem nenhuma dúvida, que a maior parte do público aqui presente, composto principalmente de alunos dos nossos cursos de graduação, ainda não chegou aos 30 anos. No entanto, embora associado à velhice, esse é um assunto que toca a todos nós, uma vez que doenças como o Alzheimer estão cada dia mais presentes em nossos círculos de amizade e em nossas famílias”, afirmou o reitor.
Demência na América Latina
Dados de estudos epidemiológicos realizados em seis países da América Latina (Brasil, Chile, Cuba, Peru, Uruguai e Venezuela), apresentados por Paulo Caramelli [foto]demonstram que a incidência de quadros de demência chega a 7,1% dos idosos. “Essa é uma taxa considerada alta por nós, pesquisadores e especialistas. No entanto, ela segue uma tendência mundial; nos países europeus, fica entre 5% e 10%”, explicou.
O que mais chama a atenção, segundo o neurologista, é que o percentual cresce muito à medida que sobem as faixas de idade na velhice. “O índice de demência, que é de 2,9% em pessoas de 65 a 69 anos, pula para 33% a partir dos 90 anos, ou seja, um em cada três pode desenvolver doenças como o Alzheimer”, contextualiza Caramelli.
O professor do Departamento de Clínica Médica da UFMG defende a importância de nos prepararmos para lidar com a situação delineada por esses dados, uma vez que a Organização Mundial da Saúde (OMS) estima maior crescimento da demência, nas próximas décadas, na população de países em desenvolvimento, entre os quais o Brasil.
Fatores de risco
Embora o envelhecimento seja o principal fator associado ao declínio de memória, estudos que investigam quadros de demência desenvolvidos em países como os Estados Unidos e o Reino Unido encontram fatores considerados de risco para a incidência de doenças como o Alzheimer.
De acordo com Caramelli, figuram com destaque nas pesquisas a diabetes, a hipertensão e a obesidade na meia idade, o sedentarismo, a depressão, o tabagismo e o baixo nível educacional. “Esses seis fatores, isolados ou combinados, explicam cerca de 28% dos casos de Alzheimer, um índice alto e considerável”, afirmou.
Conferência lotou auditório do CAD1
Variáveis para bom desempenho
Grande parte dos estudos sobre as relações entre envelhecimento e memória, segundo o pesquisador, tem foco nas situações de agravo, como o Alzheimer e outros quadros de demência; a minoria investiga o envelhecimento cognitivo saudável.
Nessa perspectiva, estudo desenvolvido pela UFMG na cidade de Caeté (MG), com 639 pessoas a partir de 75 anos, identificou indivíduos cuja memória funciona melhor que a da média de idosos entre 60 e 69 anos. De acordo com Caramelli, três variáveis sobressaíram, associadas ao envelhecimento cerebral bem-sucedido dessas pessoas: a idade (as faixas etárias mais próximas aos 75 anos), o sexo feminino e a prática regular de atividade física.
“Ainda estamos avaliando algumas outras variáveis associadas a esse bom desempenho”, afirmou o professor, que também coordena o Serviço de Neurologia do Hospital das Clínicas da UFMG e o grupo de pesquisa em Neurologia Cognitiva e do Comportamento. Para Caramelli, é importante ainda atentar para a questão genética, uma vez que “cerca de 50% do nível de desempenho cognitivo do idoso é determinado pelo nível de inteligência na infância”.
Prevenção ao Alzheimer
Como ainda não há medicamentos eficazes no tratamento do Alzheimer, a prevenção ainda é o melhor caminho, segundo o neurologista. “Além de diminuir o risco do desenvolvimento de demência, algumas práticas ainda ajudam a aumentar o nível de atividade cerebral em idosos saudáveis”, alertou Caramelli.
Entre as principais recomendações, estão a prática regular de atividade física (aeróbica e muscular), a realização de treinos cognitivos (para estimular as funções do cérebro, como o raciocínio e a memorização), o monitoramento e controle do risco cardiovascular (hipertensão arterial, diabetes, obesidade, tabagismo) e a adoção da dieta mediterrânea (que privilegia, entre outras coisas, o consumo de frutas, verduras e legumes, cereais, leguminosas, oleaginosas e peixes, com a eliminação de produtos industrializados e a redução do consumo de proteína animal).
Propósito na vida
A existência de um propósito na vida, segundo Caramelli, também tem influência positiva no combate à demência. “Pesquisas mostram que dar significado à existência por meio de experiências de vida, com objetivos que guiam o comportamento humano, também é fator que pesa na prevenção à perda de memória. Entre indivíduos que têm um propósito na vida, o risco de redução do desempenho cognitivo cai em 29%; no caso do desenvolvimento do Alzheimer, a as chances caem em mais de 50% em relação aos demais indivíduos”, afirmou
O pró-reitor de graduação Ricardo Takahashi, o professor Paulo Caramelli, o reitor Jaime Ramírez e a vice-reitora Sandra Goulart Almeida compuseram mesa de abertura
A TV UFMG entrevistou o professor Paulo Caramelli antes da conferência. Assista ao vídeo:
(Hugo Rafael)