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No bairro Campestre, em Santo André, a arte moderna faz parte do cotidiano de cerca de 60 idosos que vivem na Clínica Riviera. A responsável é a artista plástica andreense Rosângela Brabo, 53 anos, que ministra as oficinas no local há seis meses.
Após inúmeras exposições e mostras em mais de 20 anos de carreira, ela afirmou que está redescobrindo o seu trabalho artístico agora. Atualmente, não manifesta desejo de trabalhar com outra coisa. “Acho que descobri a minha verdadeira vocação, que é ensinar a arte para os idosos. Atendo a todos individualmente, cada um com a sua particularidade, mas eles têm tanto a me repassar que vivo em aprendizado diário”, disse.
Os últimos trabalhos de Rosângela foram expostos no Rio de Janeiro, onde ela morava. Quando voltou para a cidade natal, logo recebeu o convite para o desafio. “Parece algo muito diferente, ensinar arte moderna a idosos. Mas achei extremamente gratificante a iniciativa das donas da clínica.”
As proprietárias Alessandra Muneura, 42, e Sylvia de Souza Wenzel, 46, já tinham contratado profissionais para dar aula de teclado, jardinagem e musicoterapia aos internos. Elas viram em Rosângela mais uma oportunidade de trazer melhora em doenças como o Alzheimer e o mal de Parkinson.
“Temos aulas de Educação Física, atividades de memória, entre outras. Todas as oficinas proporcionam melhora perceptível na qualidade de vida na terceira idade. Muitos familiares que vêm aqui visitar os pais, mães e avós percebem que há mudança significativa. Temos todo o cuidado para que eles se sintam à vontade no seu ambiente e aprendam constantemente coisas novas”, disse Sylvia.
Uma das idosas, que tem mal de Parkinson, é um dos exemplos de superação citados por Rosângela. No começo do ano ela não conseguia segurar o lápis de cor e pintar os desenhos. Seis meses depois, escolhe as cores, faz a pintura e até mesmo decorações com glitter.
Na festa junina do local, na sexta-feira, todas as bandeirinhas foram confeccionadas pelos idosos. Eles também realizaram atividades em estêncil, confecção de máscaras de Carnaval e pintura em quadros. Em cada um deles é possível ver características diferentes.
Para dar atendimento individual, Rosângela conta com a ajuda de dois ajudantes, Giulia Moretti e Felipe Brabo. “É uma equipe. Só assim conseguimos entender a necessidade de cada um e ver o que eles transferem para a arte. São muitas lembranças e isso faz com que cada trabalho seja diferente do outro”, explicou.
Mesmo após as aulas semanais, os contatos com a arte estão presentes no dia a dia dos idosos. Eles pedem os trabalhos para mostrar para aos parentes e muitos os deixam pendurados nas paredes dos quartos. Os demais permanecem guardados no baú de arte.
Para a professora, que mostra orgulho por seu trabalho, todos são artistas por natureza. Questionada sobre possível mudança de emprego, ela afirmou que não sai de onde está. “Não consigo mais viver sem eles. Todo esse trabalho que faço aqui é extremamente inspirador e mudou o olhar que tenho sobre mim e as outras pessoas. Eles me ensinaram valores que levarei para a vida inteira como lições.”